Filme retrata o primeiro homossexual assumido eleito para cargo público nos EUA.
2009-01-28
2009-01-28
"Milk" evoca o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público nos Estados Unidos, figura representada por Sean Penn. O filme estreia esta quinta-feira em Portugal e o papel faz do actor um dos favoritos ao Oscar.
Algo está a mudar no cinema norte-americano. Os Oscars, momento de celebração máxima da poderosa indústria de Hollywood, onde nem sempre os valores artísticos estão em primeiro lugar, apresentam, neste ano, um alinhamento de candidatos em que o cinema de autor toma decisivamente o primeiro posto.
Já em exibição, encontra-se o mais nomeado do ano, "O estranho caso de Benjamin Button", de David Fincher, o mesmo de "Se7en - 7 pecados mortais" e "Clube de combate", que conseguiu 13 candidaturas. Na próxima semana, chega "Quem quer ser bilionário", de Danny Boyle, de quem nos lembramos de "Trainspotting" e que conseguiu dez nomeações. Com o número ainda significativo de oito possíveis Oscars, estreia amanhã "Milk", de Gus van Sant, o realizador de "A camino de Idaho" ou "Elephant".
No caso de van Sant, parece até consequência lógica do percurso do cineasta, homem que tem trabalhado de forma independente e que trouxe os temas da homossexualidade masculina para o primeiro plano do cinema americano sem fazer disso bandeira.
Desta vez, focando-se numa personagem verídica, van Sant conta-nos a história de Harvey Milk, o primeiro político norte-americano assumidamente gay a ser eleito para um cargo público.
Se considerarmos que tal aconteceu há mais de 30 anos, percebe-se a importância histórica do evento e a sua relevância para os nossos dias. O filme segue uma estrutura narrativa de grande liberdade, propiciada pelo guião original de Dustin Lance Black, acompanhando as recordações do próprio Milk, que trocou a mais conservadora Nova Iorque por uma São Francisco conhecida como o paraíso da comunidade gay, conseguindo finalmente fazer ouvir a sua voz, antes de se cruzar com o trágico destino.
A figura de Harvey Milk fora já retratada num documentário de 1984, "The days of Harvey Milk", curiosamente, vencedor do Oscar do ano na categoria. Agora, além das possibilidades enquanto melhor filme, realização ou argumento original, as maiores apostas vão para Sean Penn - já vencedor de alguns prémios com este filme. O actor, com o seu habitual empenho criativo, confere uma forte dimensão humanista à personagem - como que dando-lhe efectivamente nova vida - permitindo, juntamente com a apelativa fórmula narrativa que é comum aos melhores trabalhos de Gus van Sant, um diálogo saudável, inteligente e emocional com o espectador.
Aos 48 anos, podendo considerar-se com meia-idade em termos de vida e de carreira, Sean Penn é também um actor de charneira, entre uma certa tradição clássica e o cinema da modernidade. Rebelde e irreverente, associa quase sempre uma enorme dose de inteligência - além do talento - aos trabalhos a que se dedica.
E a sua carreira autónoma como realizador está aí para o comprovar, como no caso da sua obra mais recente, "O lado selvagem". Mas é, sem dúvida, o seu "lado" de actor que é mais apreciado, não sendo possível esquecer a sua presença em filmes como "A última caminhada", do também actor Tim Robbins; "Através da noite", de Woody Allen, ou "Mystic river", curiosamente de outro actor tornado realizador (Clint Eastwood) e que lhe valeria finalmente o Oscar, à quarta nomeação. Tudo aponta para que repita a façanha com a sua personificação de Harvey Milk.
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