terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Vida longa a uma ABGLT radical!

Vida longa a uma ABGLT radical!
Aos 16 anos dizem que chegamos na fase de transição para a vida jovem e preparatória da vida adulta. Mais
questões nos são cobradas, assim como mais organização e mais compromissos com o que é de nossa
responsabilidade. Temos uma vida inteira pela frente e aos 16 anos é preciso revisitar nossa caminhada até aqui
para conseguir alçar planos mais longos para os próximos anos que virão.
No dia 31 de Janeiro de 2011 a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
comopleta seus 16 anos de fundação.
Sem dúvidas 16 anos de muita luta e que fizeram uma associação composta por 30 e poucas organizações do
Brasil em 1995 virar a maior rede de organizações LGBT da América Latina com mais de 230 organizações
afiliadas em todas as regiões e estados do país.
Durante esses 16 anos a ABGLT teve (e ainda tem) o compromisso fundamental de lutar pela livre orientação
sexual e identidade de gênero no Brasil, na América Latina e no mundo. Lutar contra a homofobia, a lesbofobia, a
transfobia e todas as formas de discriminação e opressão tornaram-se suas bandeiras maiores.
Ao longo desses 16 anos a ABGLT refletiu insistentemente sobre estratégias e táticas para a luta pela livre
orientação sexual e identidade de gênero. No ano de 2011 teremos a realização do nosso IV Congresso,
convocado para o segundo semestre na cidade de Belo Horizonte-MG e que se tornou um importante espaço de
articulação e organização.
Teremos mais uma vez a chance de radicalizar tanto a nossa pauta política, quanto as estratégias e táticas que
traçamos a partir dela.
Precisamos compreender que saímos de um cenário onde o HIV/AIDS e suas políticas de prevenção eram o
centro de toda a nossa organização. Isso não significa a diminuição de nenhum passo as conquistas e espaços
alcançados por aí, mas o entendimento de que novos e mais ousados espaços e conquistas precisam estar na
nossa mira a partir do próximo período.
A limitação das nossas lutas não pode mais se ater a institucionalidade e muito menos preteri-la no lugar de
constantes e intensas mobilizações e pressões sociais nas ruas.
Vimos ao longo de nossa caminhada como a porta institucional, por um lado, foi e é importante para diversas
conquistas que temos e tivemos até então, bem como para a ocupação de espaços e avanços nos diversos âmbitos
do Estado.
Entretanto, vimos também como, por outro lado, a predileção da luta institucional, muitas vezes em
detrimento das ruas, contribuiu também para confundir a compreensão de que este Estado, tal qual o temos
hoje, está em disputa.
O modelo de Estado e de democracia brasileira hoje não nos serve, não nos inclui verdadeiramente como
cidadãs e cidadãos e negligencia o combate as diversas formas de violência as quais estamos sujeitas e sujeitos.
Além disso, esse mesmo Estado e esta mesma democracia não dão conta de representar a complexidade da
sociedade que compomos hoje e muito menos expressam a nossa diversidade política, social, econômica e
cultural que tanto lutamos e queremos.
Por isso, aos 16 anos, precisamos rever as estratégias que priorizam ou que colocam o Estado e suas esferas
como o único e não como mais um aliado conjuntural e estratégico para o movimento.
Esse ano teremos muitas lutas importantes que merecem as ruas como nosso palco central. Teremos de lutar
para o desarquivamento e votação do PLC 122/06. Teremos de lutar pelo reconhecimento do uso do nome social
das pessoas trans. Por mais uma reformulação na lei que garante direitos civis a casais formados por pessoas do
mesmo sexo. Teremos de lutar pela construção de uma ampla e articulada rede de combate a violência contra
LGBT e cobrar dos Governos Federal, Estaduais e Municipais a realização das Conferências LGBT.
É preciso a partir desses 16 anos completos, cada vez mais, radicalizar na construção de processos mais
participativos, coletivos e democráticos, que tragam para todas e todos o sentimento de importância do que
estamos construindo em rede.
Quem faz parte de qualquer processo não tem dificuldade em defendê-lo, pois cria conhecimento, acúmulo e
debate sobre o mesmo e torna-se multiplicardor/a dessas ideias.
É fundamental repensar o papel que teremos enquanto mobilizadores sociais a partir deste novo governo
Dilma que se inicia. Vimos durante a campanha eleitoral uma onda de conservadorismo que mirava LGBTs e
mulheres especialmente e os direitos historicamente reivindicados por esses setores da sociedade.
Nas eleições foram colocadas em pauta, de forma mais pública e abrangente, as disputas que há anos vemos
sendo travadas dentro do Congresso e do Estado para a aprovação de nossas leis e projetos.
Ao colocar sua opinião da forma mais pública e radical possível os setores conservadores e fundamentalistas
da sociedade nos deram um aviso de que não irão descansar das disputas que travam conosco.
A decisão final sobre essas disputas não será dada no Congresso ou no Estado, mas sim nas ruas, em cada
espaço onde exista uma pessoa que tenha uma orientação sexual e identidade de gênero diferente da
hegemonicamente aceita hoje na sociedade.
A Lei Maria da Penha já nos deu o exemplo de que mesmo com nossos PLs aprovados as lutas por
transformações na sociedade, em termos sociais-culturais-econômicos-políticos, ainda será dura e constante.
Por isso, caso adotemos para os próximos 4 anos de Governo Dilma estratégias moderadas que tivemos
durante o Governo Lula, sem dúvidas, seremos varridos pelas mobilizações da onda conservadora que já foram
convocadas a mostrar seus rostos e suas caras na última eleição.
Não podemos correr o risco de ver, após 31 anos de luta do movimento LGBT no Brasil, questões caras a nós
serem paradas ou sofrerem, em pior cenário, retrocessos e derrotas históricas.
Por fim, aos 16 anos de atividades, após essa Associação ter vivido diversos processos, não podemos mais ter
dúvidas de que o que estamos disputando a partir dela não é apenas uma lei que criminaliza a homofobia ou
reconhece o uso do nome social ou a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
O que estamos disputando na sociedade, no Estado e no Governo é a transformação radical de um cultura
altamente homofóbica, transfóbica, lesbofóbica, que ao longo dos anos não reconheceu a diversidade sexual
como central a organização da sociedade e só ampliou, propagou e ganhou mais seguidoras/res a aversão do
diferente, do diverso, do possível.
É fundamental que nos mobilizemos desde os primeiros momentos para construção de pautas, táticas e
estratégias que tragam para as ruas e para o dia-a-dia da sociedade nossas reivindicações e nossos anseios.
Nossa luta precisa ser uma constante, que paute uma sociedade, uma democracia e um Estado cada vez mais
justo, radicalmente democrático e verdadeiramente livre.
Parabéns a todas e todos ativistas e militantes da maior organização LGBT da América Latina!
Vida longa a uma ABGLT radical!
E até a vitória!

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