domingo, 18 de janeiro de 2009

O BAREBACK - o que é isso? -II PARTE

CRESCE A PRÁTICA DE BAREBACK NO BRASIL
A prática do sexo anal sem preservativos (bareback sex), “resgatada” nos anos 90 por uma parcela significativa da comunidade gay norte-americana, começou a ser propagada na Internet brasileira por um grupo de homossexuais e bissexuais masculinos que vêem a prática intencional do sexo desprotegido como um direito de escolha na busca do prazer e da felicidade. Cabe esclarecer que a prática do sexo desprotegido (unsafe sex), não é exclusiva de Homens que fazem Sexo com Homens (HSH): de acordo com os dados do último Boletim Epidemiológico de Aids do Ministério da Saúde (www.aids.gov.br), a epidemia pelo HIV/Aids ( Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), que na primeira década da doença (anos 80), mantivera-se basicamente restrita aos grupos de HSH, aos hemofílicos, hemotransfundidos e aos Usuários de Drogas Injetáveis (UDI), vem crescendo consideravelmente como decorrência da transmissão heterossexual, que passou a ser a principal modalidade de exposição ao HIV desde 1993, para o conjunto dos casos notificados, superando “homossexuais” e “bissexuais”. Apesar de ser um grupo com elevado grau de conhecimento sobre as formas de contágio e prevenção, uma pesquisa da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) [www.abiaids.org.br], revelou que após um período de redução de casos de Aids entre Homens que fazem Sexo com Homens (HSH), o número voltou a crescer: a partir de 1996, os rapazes de 15 a 24 anos representavam 8% das infecções registradas nesse grupo, somando atualmente 15%. Diante de tais informações, nota-se que o comportamento atual dos jovens gays é diferente dos da geração da década de 80 quando a Aids aterrorizou a comunidade homossexual masculina e varrendo milhares de vidas, levou a maioria dos homossexuais masculinos a adotarem o uso de preservativos (camisinhas) e a reduzirem o número de parceiros, já que a principal via de transmissão se dava pelo contato sexual. Tal mudança pode estar relacionada á ilusão de que a Aids tenha se tornado uma doença “crônica”, com a qual é possível conviver sem grandes complicações, devido aos enormes avanços no tratamento da síndrome e que afastaram o lado mais aterrador da epidemia. As significativas reduções na carga viral proporcionada pelas novas drogas anti-retrovirais, aumentaram consideravelmente a qualidade de vida dos portadores do vírus HIV e daqueles que desenvolveram a Aids. Um número incontável de soropositivos apresenta hoje uma aparência muito saudável, sem nada que os diferencie daqueles que não foram infectados, o que possivelmente fez com que o medo da Aids diminuísse consideravelmente, levando a uma despreocupação em relação á prevenção: “ Muitos dos homossexuais que iniciam a vida sexual nos dias de hoje não viveram os dramas da geração anterior e não vêem a necessidade de adotar as mesmas práticas. Assim também agem milhões de adolescentes heterossexuais”, argumenta o médico infectologista Dráuzio Varella (www.pontogls.com/sal_gaysjovensaids.htm). Torna-se preocupante, portanto, o engajamento consciente e deliberado de indivíduos HIV negativos e positivos na prática do sexo desprotegido, num momento em que o mundo todo reúne esforços na luta contra uma epidemia que já atinge aproximadamente 42 milhões de pessoas no planeta, entre homens, mulheres e crianças (www.unaids.org.br). Na América do Norte, o fenômeno do sexo “bareback” tem sido objeto de muita polêmica na própria comunidade gay e tem atraído a atenção de muitos profissionais interessados no estudo da sexualidade humana (www.users.dircon.co.uk/~eking/features/gayunsafe.htm), os quais tentam entender quais os possíveis mecanismos e motivações sócio-culturais e psicológicas que podem estar contribuindo para um retrocesso no comportamento sexual de uma parcela significativa da comunidade homossexual masculina americana. UM RISCO CONHECIDOComo mencionado anteriormente, alguns grupos de discussão direcionados a gays, têm propagado e incentivado a prática do “bareback” no Brasil. Para alguns, a participação nesses grupos é apenas um veículo para a satisfação de fantasias sexuais, enquanto para outros, torna-se uma possibilidade para o encontro “real” de parceiros que estejam interessados na prática intencional do sexo desprotegido. A página inicial do grupo atualmente extinto, BarebackselvagemspBrazil, era bem clara quanto aos seus objetivos: “Sómente gays masculinos que saibam o que é bareback sex e desejam o bareback sex em nome de uma rebeldia e liberdade, inclusive a liberdade de escolha. Para orgias, encontros hedonistas visando somente o prazer entre homens selvagens, duros, tudo permeado com muito sêmen, para a alegria de todos. Se você não gosta de sexo sem camisinha, caia fora! Agora, se gosta, aproveite, foda, faça contatos, seja bem vindo!”(http://br.groups.yahoo.com/group/barebackselvagemspBrazil). R.A, gay, 47 anos, webmaster do grupo que contava com quase 4.000 membros desde que foi divulgado em agosto de 2002 até a sua extinção em meados de março de 2003, argumenta que ninguém tem coragem de admitir que faz sexo sem camisinha e que depois de 20 anos de sexo seguro, as pessoas se cansaram e questiona: “Colocar o sexo sem camisinha como um fenômeno puramente gay é mais uma forma cruel de preconceito. Por que nós gays temos de carregar mais esse rótulo? ...Por que a coisa tem de pesar sempre para o nosso lado, como se nós fôssemos responsáveis pela conscientização da sociedade? Os gays não são responsáveis por nada...As pessoas, homossexuais ou heterossexuais fazem sexo sem camisinha, não adianta tapar o sol com a peneira”
Maria Cristina Martins, Psicóloga Clinica, Terapeuta Sexual e Especialista em Sexualidade Humana - Unicamp. Trabalho apresentado no XVI Congresso Mundial de Sexologia – Março/2003 – Havana - Cuba.

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